sobre o meu processo criativo.

processo criativo beija-flor

Estreio os posts de 2021, nesta casa que anda mais parada, com um resumo bem especial: o do meu processo criativo.

Devo confessar-vos que este exercício de descrever o que me move no beija-flor, é bem mais complexo do que imaginei. O meu processo criativo é um processo muito intuitivo, pessoal e nem sempre igual, o que dificulta a sua explicação, mas dei o meu melhor! :)
Decidi dividir este resumo em duas partes diferentes: o me levou (e o que me mantém) neste mundo do papel/ o que me inspira e diferentes momentos do meu processo criativo.

* Parte I - Sobre o que me inspira e move. *

Desde bem novinha que me lembro de colecionar papel. E por papel entenda-se: cadernos, postais, papel de escrita, envelopes, recortes, autocolantes, calendários, etiquetas, cadernetas, posters e provavelmente outros que agora me escapam. Desenhos de letras - tipografia - eram os meus favoritos. Sempre adorei desenhar letras (e talvez por isso digam que tenho a letra bonita, porque sempre gostei de as desenhar e aperfeiçoar).
Muito do que ia criando ia também guardando, porque aqueles pedaços de papel faziam-me sempre lembrar uma história qualquer, um momento especial, um amigo, uma paixão ou uma aventura e era tão bom revisitá-los!
Depois vieram os diários gráficos e o vício do registo. Tenho dezenas de cadernos e adoro revisitá-los. Todos eles contam, histórias (da minha história).

Fui crescendo, ganhando mais alguma cultura visual e, depois de uma licenciatura em Design, o gosto pelo papel acabou por ganhar ainda mais importância (e mais alguma aprimoração vá :)). Com a entrada no mercado do trabalho descobri muitos acabamentos, processos de impressão, que me permitiram imaginar produtos que poderia fazer.

A par da paixão pelo papel, e pelo seu potencial, esteve sempre o gosto por certos objectos, marcas e processos mais antigos. Inspiram-me as histórias que contam, que levam consigo.
(Creio que a esta altura já perceberam o que é dominante neste processo :))

Era rapariga para me perder horas na Vandoma, de entrar nas lojinhas todas com o ar menos hipster da cidade e descobrir preciosidades. Aliás, é algo que ainda adoro fazer. Sigo criativos que trabalham bem o seu imaginário, valores e ideais e na verdade, agora que penso mesmo sobre isto, acho que sempre aspirei vir a ser um deles também. Criar um produto português, que conte uma história - a história da sua construção, de quem o vai usar, é algo mesmo especial e adoro perceber que tenho essa capacidade.

Assim, quando crio um produto, penso na sua pertinência, se vai permitir a quem o usa criar algo seu e se sim, avanço.
Depois aplico-lhe a "minha fórmula": uma linguagem minimal e simples, embora não simplista. É uma assinatura minha, que me é intrínseca. Não tenho propriamente uma fórmula ou regra, mas a verdade é que sempre que desenho um produto faço-o assim.
Lembro-me de ouvir amigos dizerem sobre trabalhos que ia fazendo "ah, está mesmo à Su! Nota-se mesmo que foste tu a fazer." e eu ficar sem perceber se isso era positivo ou negativo. De ter medo do meu trabalho ser pouco diversificado (e nós designers conseguimos elevar muitoooo a fasquia da auto-avaliação/censura!) e isso me incomodar. Hoje, consigo perceber que é mesmo uma mais valia, que é a minha linguagem e marca. Consigo perceber que os produtos podem (e devem) ser diferentes, mas há uma linha invisível que os une, a minha visão.

* Parte II - Diferentes momentos do meu processo criativo. *

Muitas vezes a criação de um novo produto está ligada directamente à minha vontade de o usar. Isto é, eu sou a minha maior cliente. Acredito que se eu comprar determinado produto, ele vá também ser uma opção para muitos de vocês. Sei que isto pode parecer estranho, mas é mesmo assim que funciona. Se eu não comprar o meu produto não avanço com sua produção. Este é um dos pontos fundamentais, e decisivos, num lançamento de qualquer produto beija-flor.

Como surge esta vontade e/ou esta necessidade? No dia-a dia. No meu, no dos meus amigos, do que vou vendo à minha volta e do acredito fazer sentido adicionar ao mercado.
Depois de ter a tipologia de produto definida começo a perceber como faria sentido desenhar o produto: qual o formato mais adequado, quais os materiais que funcionam melhor, que acabamentos faz sentido ter (para se tornar mais especial) e qual o valor que espero que tenha. Se faz sentido alguma colaboração com outro criativo e, se sim, quem se enquadra melhor naquele desafio. É tudo pensado ao pormenor para que no final o produto seja coerente, funcional e que vá para além da sua função prática.
Um caderno servirá sempre para registar, mas o ideal, para mim, é que alguém olhe para Aquele caderno e imagine que é nele que se vê a escrever Aquela história, o registo Daquela viagem ou para planos Aquele projecto. Isto é o que, no final, aspiro sempre.

Quanto aos materiais, às cores, aos acabamentos, estas decisões acabam por cair sempre muito no que vou vendo, imaginando e conjugando. Isto é: às vezes é ao virar da esquina, onde descubro aquela árvore com a folhagem mais bonita que me faz chegar à conjugação de cores ideal, outras vezes é ao olhar para um padrão de um mosaico hidráulico que descobri ao espreitar a casa mais peculiar da rua. Isto para vos dizer que a inspiração pode vir de muitos lados, dos mais inesperados ou até dos mais casuais. Ajuda muito ir descobrindo novos sítios, materiais, papéis, ir falando pessoas inspiradoras (das mais variadas áreas! E eu, felizmente tenho tido muita sorte!) e estar atento.

O que também tem influenciado muito o meu processo criativo são os testes, os erros. É verdade. Ao longo destes anos tenho errado muito, faz parte e aprendi a vê-los como um passo mais construtivo do que o inverso. Já dei por mim a descobrir o melhor resultado gráfico final no produto que não era suposto e depois conseguir levá-lo ao produto certo e só o consegui porque um dia fiz aquele passo/ "erro".

Algo que procuro ter sempre presente, durante todo processo criativo é também a escolha do melhor parceiro para produzir. O crescimento da marca fez com que eu tivesse de passar trabalho para as mãos de outras pessoas e é fundamental para mim, assegurar que as pessoas que fazem os produtos beija-flor estão alinhadas com os valores da marca. Produzo local, em quantidades pequenas e da forma mais sustentável possível.

Creio que são estas as linhas gerais que guiam o meu processo criativo. Como viram não há uma fórmula ou um método rígido, e ainda bem que assim é! :)

Espero que tenham gostado de saber um pouco mais do que se passa deste lado. Eu por aqui, apesar de ter achado este exercício bem difícil, chego feliz ao final porque também me ajudou a arrumar mais as ideias e os meus próprios conceitos! :)